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Aprender uma coisa nova por dia

Nem sabe o bem que lhe fazia

Como estimular a linguagem e a fala do bebé?

 

       Nós, os seres humanos, não somos assim tão diferentes dos outros animais no que toca à aprendizagem. Nós, aprendemos pela imitação, claro que temos um código genético e estruturas físicas que nos fornecem capacidades para aprender determinadas competências, mas só as aprendemos porque emitamos os nossos semelhantes. Lembram-se da história de 'O menino selvagem'? É o exemplo perfeito de que para aprendermos temos de ter modelos que possamos imitar.

         A linguagem não é diferente, aprendemos porque tudo à nossa volta nos estimula para tal. É apenas necessário compreender que não é só através da linguagem (palavras) que o bebé comunica, ainda antes de falar ele facilmente consegue comunicar o que precisa. Há até mães que já sabem qual o choro de sono, fome e de mimo, isso é mais uma forma de comunicar. Mas a verdade é que a linguagem é a forma como nós, seres humanos, melhor comunicamos e é também necessário ser estimulada, de uma forma tão simples como: FALAR. Sim, falar. Qual será a melhor forma de estimular a linguagem do que falar? Seja para o bebé, seja com a televisão ligada, seja a contar uma história ou até mesmo com música, todas estas actividades vão estimular directa e indirectamente a linguagem e a fala do bebé. Pelos 5/6 meses o bebé já começa a palrar de forma mais frequente e já começa a ter alguma intencionalidade, no entanto ainda nada é dito, apesar de cada um interpretar o que quiser. No entanto, deve-se estimular a linguagem desde o momento em que nasce, assim, deixo algumas dicas.

        1. Se até aqui tem vindo a falar com a criança em modo 'baby talking', aquelas frases com 'inho' e 'inha' em todas as palavras e diminutivos como 'peta' ou 'chicha', a partir de agora é bom dar o modelo correcto de cada coisa.

 

           2. Aproveite a hora de cada rotina para expandir vocabulário, por exemplo: quando está a dar banho diga que partes do corpo vai lavando ou os produtos que usa. O mesmo pode ser utilizado na hora de comer, de vestir e até de brincar.

 

          3. Boa articulação das palavras, há de reparar que quando falamos com bebés eles olham muito atentamente para a nossa boca, por isso há que ter um bocadinho mais de cuidado com a forma como falamos.

 

         4. A hora de brincar é excelente para promover a linguagem, a criança está entretida, quer interagir e é o momento ideal para falar com ela.

 

              5. Contar histórias, cantar músicas, e falar directamente com a criança, mesmo que ela não responda, é estar a estimular a linguagem.

 

              6. Quando a criança palrar não a interrompa, faça como se fosse uma conversa, verá que ela vai começar a perceber que a conversação é feita de turnos comunicativos.

 

                7. Brincar, deixe-a brincar e muito, a hora de brincar é um mundo de estímulos para a criança, sejam motores ou de linguagem, e sente-se no chão com ela e aproveite o momento.

 

Muito resumidamente, estimular a fala e a linguagem é tão simples como: Falar!

 

Dúvidas? Ajuda? Estou cá para isso, é só dizer.

 

(Imagens retiradas daqui e daqui)

Problemas com a Língua Portuguesa na escola?

           Há uns anos atrás, todos os alunos que tinham dificuldades na escola eram intitulados como 'burros' ou como 'preguiçosos' para estudar. Finalmente, com o desenvolvimento da sociedade estes dois adjectivos começaram a ser eliminados gradualmente, apesar de ainda haver muitas pessoas que não entendem que se a criança tem dificuldades em aprender é porque poderá ter algumas bases irregulares do seu desenvolvimento. Como uma casa, primeiro precisamos de fazer as paredes para conseguirmos fazer o telhado, no desenvolvimento da criança é também necessário ela ter determinadas competências para conseguir aprender coisas na escola, nomeadamente, a escrever e a ler. Uma das mais importantes bases para uma boa aprendizagem das competências de leitura e escrita é a consciência fonológica.

          A consciência fonológica é aquilo que nos permite conhecer e manipular os sons da nossa língua, por exemplo: dividir uma frase em palavras, dividir as palavras em sílabas, reconhecer os sons presentes em cada palavra, identificar por que som começa uma determinada palavra e até conseguir distinguir sons em palavras muito semelhantes (por exemplo: bata e pata). Esta é uma das bases para a aprendizagem da leitura e escrita.

               Ao fim de alguns meses de vida (2 meses) uma criança com o desenvolvimento normal já sabe quais são os sons da sua língua materna e os que não são, no entanto até aos 5 anos a criança já deve ser capaz de fazer jogos de rimas, dividir as palavras em sílabas, assim como dividir frases em palavras. Aos 6 anos, já deve conseguir manipular os sons e identificar sons semelhantes em palavras.

        É quando este desenvolvimento normal não ocorre que começam a aparecer as primeiras dificuldades no primeiro ano de escolaridade, até lá a criança não foi devidamente estimulada de forma lúdica ou poderá ter perdido alguma etapa do seu desenvolvimento normal. Normalmente, quando os pais me vêm com queixas como 'O meu filho a escrever confunde sempre o /p/ pelo /b/', ou 'Ele fala muito bem, mas lê por sílabas e dá muitos erros a escrever', vejo imediatamente uma Perturbação Fonológica, que muitas vezes está associada a outras problemáticas.

         Normalmente explico que a Perturbação Fonológica é como se os sons estivessem desorganizados na cabeça, que cada um tem a sua gaveta, mas que no meio de tantos alguns se perderam e foram parar ao local errado e que simplesmente é necessário voltar a reorganizá-los para depois aparecerem correctamente enquanto lemos ou escrevemos. Hoje, já com alguma prática nesta matéria, apercebo-me que muitos dos meus amigos de escola que reprovaram e que tinham problemas escolares, poderiam no fundo ter este tipo de perturbação e que se tivesse sido diagnosticado e tratado, talvez hoje tivessem mais sucesso na vida.

          Não há crianças burras, como nos faziam crer antigamente, há crianças com problemas de aprendizagem e simplesmente é necessário identificá-los atempadamente. O tratamento pode ou não ser mais prolongado, mas terá sempre um grande impacto no processo de aprendizagem da leitura e escrita.

             Por isso, se o seu filho tem alguns problemas de leitura e escrita o ideal é ir fazer uma avaliação ao Terapeuta da Fala, pode ser algo tão simples como uma Perturbação Fonológica.

Aceitam-se dúvidas ou questões!

 

(Imagens retiradas daqui e daqui)

Vamos TODOS comunicar?

       Uma vez, por estes lados, referi que mais do que Terapeutas da Fala, somos Terapeutas da Comunicação. E a comunicação é uma das mais importantes condições humanas, aliás, é a forma complexa e explicita de como comunicamos e organizamos pensamentos que nos torna seres racionais. Por este mundo existem muitas doenças que têm adjacentes Perturbações da Comunicação, nomeadamente, autismo, paralisia cerebral, síndrome de locked-in, entre outras. 

          Por Perturbações da Comunicação, entenda-se a dificuldade de comunicar, seja para perceber o que é comunicado seja para comunicar. Normalmente, são pessoas com problemas de fala, de compreensão de informação verbal e com défices cognitivos (apesar de em muitos casos também não os terem). Para estas pessoas, como muitas vezes têm ainda dificuldades motoras associadas, é necessário arranjar uma forma de Comunicação Aumentativa e Alternativa. Palavreado difícil? Nem por isso, apenas quer dizer que vamos encontrar uma forma de melhorar a comunicação de forma à pessoa se tornar independente de uma pessoa para ser compreendida. Vejamos alguns exemplos:

          Esta é uma tabela de comunicação de PCS - Picture Communication Symbols, um dos maus utilizados Sistemas de Comunicação. Antigamente usavam-se livros, em que o utilizador tinha de andar a virar as folhas que se encontravam organizadas por categorias (saudações, verbos, objectos, pessoas, tempo...), ainda hoje as pessoas mais carenciadas utilizam. No entanto, as tecnologias vieram trazer muitas vantagens, e os tablets hoje são uma mais valia para estes sistemas de comunicação, que adaptados adequadamente às necessidades de cada utilizador são práticos e podem ser alterados continuadamente.

           Existem muitos outros sistemas de comunicação, uns mais simples a preto e branco e outros acompanhados de gestos, mas o importante é estes serem adaptados às capacidades cognitivas e motoras de cada pessoa. Ainda é importante dizer, que quanto mais explícitos forem os desenhos, mais fácil será de usar o sistema, apesar de existirem sistema de apenas letras ou palavras (muito usados para perturbações de comunicação adquiridas).

 

        O vocalizador, entra no mesmo sistema de selecção das imagens do que se pretende comunicar, mas tem uma saída de voz que permite ao interlocutor não ter de olhar para o quadro de comunicação e apenas ouvir, apesar de ser muito limitado na sua utilização. 

           E quem não se lembra de Stephen Hawking ou da personagem do filme 'O Escafandro e a Borboleta'? O primeiro com um sistema de comunicação avançadíssimo que é vocalizado por um computador, após a selecção das palavras que são pretendidas transmitir (explicação aqui) e o segundo com um sistema tão básico como a indicação das letras e em que este pestaneja quando quer seleccionar a letra pretendida. Um mais complexo que o outro e um mais demorado que o outro, mas que permitiram a comunicação até para elaboração de livros.

 

             Por isso, há sempre formas de comunicar e apenas foram apresentadas algumas. Precisam de treino, de quem comunica e quem recebe a informação. Precisam de tempo e muita paciência, mas basta estarmos dispostos a comunicar e a perceber o que nos é comunicado que o processo de comunicação se inicia imediatamente. Nem que seja com um piscar de olhos.

Dúvidas? Comuniquem da forma que quiserem!

 

(Imagens retiradas daqui, daqui, daqui, daqui, daqui)

Engasgues frequentes?

      Na semana passada fiz-vos reflectir sobre a forma como engolimos, apenas para esta semana conseguir-vos explicar o que é a disfagia. A disfagia sempre foi uma das temáticas da Terapia da Fala que mais medo me causava, por uma simples razão, más práticas podem levar a problemas gravíssimos de saúde para com o doente ou até mesmo a sua morte. A primeira vez que fiquei num gabinete com uma pessoa com disfagia quase que tinha um ataque de tão nervosa que estava, daí num curto espaço de tempo ter tirado um curso específico sobre esta área de intervenção, agora pensem no quão séria é esta área.

(Imagem retirada daqui)

 

     Antes demais, o que é a disfagia? Cientificamente a disfagia é 'um distúrbio da deglutição, presente na alimentação. A dificuldade pode prender-se com o início da deglutição, denominada disfagia orofaríngea, ou pode relacionar-se com a retenção com algum tipo de alimento na passagem do mesmo para o estômago'. Muitas vezes começa com simples sintomas, como engasgar-nos frequentemente com determinados tipos de alimento, dificuldades ou demorar mais a engolirmos e até dores ao engolir.

        O tipo de disfagia depende do local onde se sente alteração ou mesmo dor. Assim, quando alguém sente dificuldade em iniciar a deglutição, quando existe presença de regurgitação nasal (sai alimento pelo nariz), tosse, redução do reflexo de tosse, engasgamento, mau hálito e som anasalado, o tipo de disfagia é a orofaríngea. Mas disso não será tão necessário assim saber-se, o importante é estar-se atento a estes sinais de alerta.

         Quando os primeiros sinais surgem de disfagia é importante dirigir-se a um médico, pois a disfagia tem consequências graves como pneumonias. Uma doença silenciosa que muitas vezes não surge de uma simples constipação, mas de uma aspiração de alimento para os pulmões, quando a protecção da via não funciona normalmente. Outra consequência será a falta de nutrição, a falta de apetite, a dificuldade em que surja um alimento que facilite a deglutição, o que poderá levar à perda de peso e mesmo de hidratação.

           As causas da disfagia, essas ainda são variadas, poderá advir de um AVC, de uma lesão nos nervos responsáveis pela deglutição ou estruturas que lhes estão subjacentes e até mesmo da velhice. É necessário lembrar que todas as nossas estruturas estão envolvidas por músculos, e tal como acontece nas pernas e em outras partes do corpo, estas com a idade perdem funções e esse processo acontece em todo o corpo, incluindo na laringe (responsável pela protecção de entrada de líquido para os pulmões durante a alimentação).

Aos 2 minutos de vídeo podemos ver a disfagia de uma forma mais elucidativa.

 

A reter? Aos primeiros sinais consistentes de disfagia à que procurar um profissional de saúde.

 

Já pensaram em como engolimos?

Já alguma vez vos passou pela cabeça de como é o processo de engolir? Pois, normalmente as coisas mais básicas do dia-a-dia nem nos fazem questionar como funcionam, mas hoje vou fazer-vos pensar no assunto.

Pensem que vão comer um bocadinho de chocolate. Metem à boca, fecham os lábios e depois? 

Agora vejam o vídeo seguinte:

Algo tão básico como engolir parece um processo muito mais complexo do que pensávamos, e é verdade, é um processo bastante complexo. Engolir obriga à coordenação de imensos músculos e sistemas, nomeadamente o respiratório, para além das inúmeras estruturas anatómicas que engloba. Existem autores que defendem que o processo de deglutição (engolir), tem 3 frases:

(Imagem retirada daqui)

 

Os primeiros sinais de problemas de deglutição surgem com os engasgues frequentes, com água ou algum tipo específico de alimentos. Surge com a dor ao engolir sem haver qualquer tipo de inflamação ou causa aparente e até mesmo após AVCs, em que alguns nervos tenham ficado afectados. A esse tipo de problemas chamam-se de disfagias, uma das áreas de intervenção do Terapeuta da Fala.

 

Hoje deixo-vos apenas o processo de deglutição, na próxima semana irei falar-vos das perturbações deste processo tão essencial e natural para a nossa sobrevivência e qualidade de vida.

 

 

O meu filho tem gaguez?

(Imagem retirada daqui)

 

       A gaguez é um termo ainda muito complexo para a sociedade, muitos serão capazes de dizer que é apenas uma questão psicológica, outros uma questão apenas motora, mas a verdade é que a gaguez pode ser uma combinação das duas ou de nenhuma delas. Muitas vezes, a gaguez, é um grande receio para os pais 'Será que o meu filho é gago?', 'Será que a gaguez tem cura?', são sempre questão que lhes surgem nos pensamentos quando ouvem os primeiros sinais de repetição de sons ou hesitações em falar.

 

       O que é a gaguez? 

       A gaguez é uma perturbação na fluência do discurso, inapropriado à idade do indivíduo, ou seja, a fala da pessoa é caracterizada por repetições ou prolongamentos frequentes de sons ou sílabas. O grau de perturbação varia e frequentemente é mais severo quando existe uma pressão especial para se comunicar (por exemplo: falar para a turma na escola, ser entrevistado para um emprego, etc.). 

      Normalmente, quando uma pessoa gagueja, pode tentar evitar o problema alterando a velocidade da fala para mais lenta, evitando certas situações, ou evitando certas palavras ou sons que lhe sejam mais difíceis. A gaguez pode ainda ser acompanhada por 'tiques' físicos.

 

        Quando surgem os primeiros sinais?

        Os primeiros sinais de Gaguez surgem por volta dos 2 e os 5 anos, noutros casos podem até nem surgir antes dos 12/13 anos. No entanto, é preciso ter em atenção que numa fase inicial do desenvolvimento (quando as crianças ainda estão a aprender a falar) é normal as crianças apresentarem repetições de sons, palavras e frases. É preciso ter então em atenção outros sinais que nos possam levar às suspeitas de gaguez, como as hesitações e até as dificuldades em falar em determinados contextos e se essas características persistem a partir dos 5 anos.

         Os autores defendem que a gaguez surge de uma forma gradual, com a repetição das consoantes iniciais, palavras (habitualmente as primeiras de uma frase) ou palavras longas. Indicam também que até 80% dos indivíduos com gaguez esta perturbação tem cura, e em 60% dos casos a recuperação é espontânea. Esta recuperação surge normalmente antes dos 16 anos.

 

       Como surge a gaguez?

        A Associação Portuguesa de Gagos apresenta como causas da Gaguez a genética (em 60% dos casos há alguém com o mesmo problema na família), questões neurológicas (existem áreas neuronais que funcionam de forma diferente das pessoas que não têm gaguez) e o psicossocial, onde estão envolvida questão de como a gaguez foi vista pelo contexto desde os primeiros sinais.

        A passagem de uma gaguez normal (isto em idade de aprendizagem da fala) para uma questão de gaguez permanente ou perturbação do discurso, advém muitas vezes da atenção que damos às características que a criança apresenta enquanto fala. Por exemplo: se a estamos sempre a corrigir, se aumentamos a sua tensão enquanto fala, se lhe estamos sempre a chamar à atenção do problema, é provável que a criança comece a aperceber-se de que tem um problema e a partir daí tudo funciona como uma 'bola de neve', aumentando as suas inseguranças enquanto fala.

 

         Como devemos lidar com a gaguez em crianças?

         No Jardim de Infância e na Pré-Primária:

          - Não se lhe devemos prestar uma atenção especial;

          - O educador deve falar com o terapeuta e pais para obter informações;

          - Deve falar-se com calma e paciência e deixar a criança falar sem a interromper.

          Em casa:

          - Olhar para a criança enquanto ela fala;

          - Mostrar interesse, valorizando o que a criança tem para dizer e não a forma como o faz;

          - Não interromper nem completar as palavras e frases; 

          - Não permitir que a criança se aperceba que a forma como fala o preocupa;

          - Evitar comentários como «tem calma e fala devagar», «pensa antes de falar», «espera até conseguires dizer», isso só irá aumentar o problema.

 

A reter: a gaguez pode ser apenas uma fase do desenvolvimento e não um problema, apenas é um problema quando persiste no tempo e quando lhe conferimos alguma importância. Em caso de dúvidas, procurar a opinião de um Terapeuta da Fala.

 

Como aquecer a voz?

Na semana passada passei-vos alguns conselhos para uma voz saudável, celebrávamos o Dia Mundial da Voz, hoje darei algumas dicas de como fazer alguns exercícios de aquecimento vocal.

Tal como o resto do nosso corpo, o órgão responsável pela formação da voz é um músculo, e se antes de irmos correr fazemos aquecimento dos músculos do corpo é também adequado que quando vamos usar a voz para alguma função específica façamos aquecimentos. A formação da voz é um meio mecânico como o processo de corrida, é necessário fazer um aquecimento e de seguida os alongamentos. Caso os exercícios não sejam feitos antes de um esforço maior poderão ocorrer lesões, que demoram a passar e são, normalmente, dolorosas. Ora, com a voz temos de pensar a mesma coisa.

 

Quando devem ser feitos os exercícios de aquecimento vocal?

Fácil, sempre que se vá usar a voz de uma forma intensiva. Por exemplo: antes de cantar, antes de dar aulas ou palestras, antes de ir fazer teatro, ou até mesmo antes de discursos políticos.

Quanto tempo?

Podem bastar 10-15 minutos antes do processo, se já existirem patologias, esse tempo pode ser passado para 30 minutos.

Que exercícios se deve fazer?

A produção da voz envolve muitos órgãos e músculos, por isso o aquecimento não deve ser realizado apenas ao nível da garganta, mas sim a nível respiratório, articulatório e fonatório (processo da produção do som).

Fazer os exercícios de alongamento do pescoço, rotação para a direita e esquerda, verticalização do pescoço e fazer também com o tronco os mesmos exercícios.

 

Varrer o céu da boca com a língua, se fizer cócegas é porque o exercício está a ser bem feito.

 

Limpar os dentes com a língua, de boca fechada, como te tivéssemos comida nos dentes.

 

Movimentos de mastigação com a produção do som /m/ e /n/, ou seja, fazer de conta que estamos a mastigar uma chiclete de boca aberta e ao mesmo tempo dizer os sons;

 

Vibração dos lábios e língua, sabem quando brincamos com os bebés e fazemos o som /br/ com os lábios? É exactamente a mesma coisa.

 

Produzir /i/ subindo e descendo na escala musical, pensar nas notas musicais e fazer a 'subida' do i até ao Si e depois 'descer' até ao Dó. Fazer o mesmo exercício com o /u/ e o /a/.

 

Inspirar pelo nariz e expirar pela boca profundamente, pode ser acompanhado de movimentos de braços para cima e para baixo.

Bocejar à vontade, sempre que necessário.

Conselhos adicionais

Quando vão utilizar a voz nestas situações lembrem-se de levar sempre água, irá ajudar a não existirem lesões nas cordas vocais. E já sabem, se tiverem alguns sintomas de dor, rouquidão ou cansaço vocal persistente procurem um médico.

 

Deixo-vos ainda o link deste vídeo, que demonstra alguns dos exercícios referidos. Alguma dúvida?

 

(Imagens retiradas daquidaquidaquidaqui)

Conselhos para uma Voz Saudável

(Imagem retirada daqui)

 

      Hoje, dia 16 de Abril, celebra-se o Dia Mundial da Voz. E que tem o Terapeuta da Fala a haver com isso? Tudo. Os Terapeutas da Fala trabalham em parceria com profissionais da voz e trabalham em patologias relacionadas directa ou indirectamente com a voz. O Terapeuta da Fala pode ajudar no aperfeiçoamento da voz com actores, cantores e até políticos e ainda auxiliar pessoas com nódulos nas pregas vocais, rouquidão persistente ou outras patologias associadas à voz.

       A verdade, é que mesmo não sendo profissionais da voz (ou que pelo menos o achemos), a voz é uma das ferramentas mais importantes no nosso dia-a-dia, já experimentaram uma afonia total durante um dia inteiro? Pois é, é terrível não se conseguir falar e expressarmo-nos da maneira mais fácil que conhecemos. Por isso hoje, no Dia Mundial da Voz, deixo-vos alguns conselhos importantes para manter uma voz saudável.

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           - Espreguiçar faz bem para aliviar tensões, assim como fazer alongamentos, principalmente no que diz respeito ao pescoço e costas. Aliviar essas tensões e dar mobilidade aos músculos irá facilitar o movimento dos mesmos durante a fala. 

           - Bocejar, pode parecer uma vergonha, mas não se preocupem, bocejar ajuda também a aliviar tensões do tracto vocal e com som ainda é melhor. Mas vá, não bocejem em frente ao patrão que a coisa pode correr mal.

           - As cordas vocais são também um órgão e como tal precisam de muita hidratação, quem por natureza fala muito de certeza que sente a necessidade de beber muita água e só faz bem, ajuda a manter toda o tracto vocal em bom funcionamento.

            - Tentar falar o mais possível de frente a frente, isso melhora a postura para falar e diminui a necessidade de falar mais alto ou de adoptar posturas erradas.

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            - Se já tem a voz cansada sussurrar não é solução é apenas disfarçar e o esforço feito é superior ao falar normalmente.  

            - Se houver necessidade de expelir qualquer coisa, não pigarreiem (ou seja, aquelas tentativas de tirar o 'catarro'), tussam, caso a sensação não passe com água. Pigarrear vai provocar lesões nas cordas vocais, tossir não é bom, mas sempre não provoca tantos danos.

            - Tomar analgésicos aquando dores de garganta tiram apenas a dor e não curam, por isso há que evitar esforçar a voz nesses momentos, assim como tomar rebuçados ou sprays e logo a seguir ir fazer um esforço vocal. Não estamos a curar, apenas a piorar a situação. O ideal é falar o menos possível.

            - Evitar comidas muito picantes, estas não são nada amigas das cordas vocais.

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            - Se uma rouquidão ou dor de garganta for persistente há que procurar um Terapeuta da Fala ou um Otorrinolaringologista. Não é suposto uma rouquidão durar muito tempo e às vezes pode ser indício de outros problemas que estão camuflados com a rouquidão, nomeadamente, nódulos vocais. 

             - Evitar sítios com fumo de tabaco ou até ar condicionado, estes locais são propícios a provocar problemas vocais (sou muito sensível a estes ambientes e mesmo que não fale, depois de uma noite num bar encontro-me ligeiramente rouca).

             - Não ingerir café, leite e chocolate antes de palestras e actividades em que se recorra muito à voz. Estes alimentos têm uma substância que irá envolver as cordas vocais e diminuir a sua função e aumentar o esforço.

             - Fazer sempre aquecimento vocal para dar palestras ou outro tipo de situações em que a voz seja importante, não são só os cantores que precisam dos aquecimentos, professores e até pessoas que trabalham em call-centers o deveriam fazer.

             - Não aumentar o tom de voz, mas projectar a voz, existe uma diferença entre os dois conceitos, um exige mais das cordas vocais e o outro do sistema respiratório. O ideal será procurar auxílio de um profissional caso precise de 'falar alto' de forma recorrente.

 

Não esperem por terem graves problemas de voz para começarem a dar-lhe o devido valor. Comecem a tratar bem da voz agora.

 

Dúvidas? É só perguntar!

'O meu filho precisa de ir à Terapia da Fala?'

(Imagem retirada daqui)

 

    Uma das perguntas com que me deparo com maior frequência é sobre o quando uma criança deverá ir ver o Terapeuta da Fala. Às vezes basta os pais dizerem-me os que os preocupa e a idade da criança para saber o que me espera, no entanto, aconselho sempre uma avaliação apenas para o despiste e para deixar os pais mais tranquilos. Foram muitas as avaliações que fiz apenas para consciência dos pais, pois as queixas vinham-me parar aos ouvidos e a palavra 'normal' colava-se às características que os pais me apresentavam. Perguntas como 'é normal a minha filha aos 5 anos não falar muito?', 'o meu filho de 4 anos não diz o L nas palavras, estou preocupada!', 'sabe, ele fala desde os 2 anos e agora com 4 gagueja, que faço?' ou até 'tem 2 anos e não diz nadinha!', são bastante frequentes. Os pais que me conhecem apanham-me na rua e perguntam-se se acho normal, e caso seja ou não, respondo sempre a necessidade de fazer uma avaliação e (o mais importante) lembrar-lhes que cada criança tem um ritmo de aprendizagem próprio.

      Hoje em dia os pais já estão mais alertados (pelo menos alguns) para as capacidades de aprendizagem dos filhos, ainda assim, o conceito de normalidade preocupa-os com o receio de que as suas crianças estejam atrasadas em relação aos outros. O que acho que falha é na transmissão de informação para os pais do que é normal em cada idade, dando sempre uma margem de alguns meses, eu faço questão de apresentar tabelas e livros com provas do que é normal aos pais dos meus meninos. É a apresentação da 'normalidade' que os deixa mais tranquilos. Por isso, antes de mais, em casos de dúvidas é só perguntar.

       Contudo, hoje apresento-vos alguns aspectos que deverão ser tidos em conta ao longo do desenvolvimento da criança que podem dar um alerta para a necessidade de procurar um Terapeuta da Fala.

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    Espero ter conseguido tirar algumas das vossas dúvidas, ainda assim, se persistirem é só perguntarem!

O que é a Afasia? II

Se na semana passada falamos sobre a Afasia, uma das consequências de um AVC (por exemplo), esta semana iremos observá-la. Uma coisa é falarmos das suas características, outra coisa é observarmos a pessoa com Afasia. Muitas vezes o primeiro impacto com pessoas com Afasia faz com que não saibamos reagir, pois a teoria é uma coisa e a prática é outra. Lembro-me perfeitamente de nas aulas os professores nos prepararem para esse desafio, contudo não impediu o meu 'choque' quando observei pela primeira vez num senhor de 43 anos com uma Afasia de Wernick. Mais que o conhecimento teórico é preciso ver e saber lidar com uma pessoa com Afasia e hoje é o que vamos fazer.

Podemos ainda fazer outro exercício: Limpem a vossa mente e vejam o primeiro dos vídeos, o que fariam se um dia acordassem e as palavras que queriam dizer não vos chegassem à boca? O que fariam se olhassem para uma pessoa e não percebessem nada do que diziam? E se vocês mesmos conseguissem aperceber-se de que tudo o que diziam não fazia sentido? É algo assustador, mas a verdade é que há milhares de pessoas que lidam com isso todos os dias e o Terapeuta da Fala auxilia na aprendizagem de um novo método de comunicação ou na melhoria das capacidades para a comunicação.

 

Afasia de Wernick, não há paragens do discurso, no entanto a senhora tem imensas dificuldades de compreensão como se pode observar com a falta de respostas às perguntas feitas, nem realiza as tarefas pedidas. Por vezes utiliza apenas uma palavra para executar a tarefa, 'Mostra-me como se dá um beijo', ela recorre só à palavra beijo para imitar. O vídeo é em inglês, mas as características são evidentes.

Afasia de Broca, é observável que a jovem sabe o que deve dizer mas não se lembra das palavras, a Sarah compreende o que lhe dizem, mas não consegue verbalizar a resposta em tempo imediato, não mantendo um discurso fluente. É como se as palavras não lhe formassem no cérebro. Reparem nas pausas que faz e nos 'hummm' que faz para pensar na palavra que quer dizer.

Afasia Global, semelhante à Afasia de Broca. A terapeuta questiona onde estão, responde no parque. O senhor compreende, mas não consegue responder nem repetir o que lhe dizem, a leitura e a escrita encontram-se também afectadas.

Afasia de Condução, vejam que a senhora percebe a tarefa que tem de fazer, contudo a meio da tarefa erra e não consegue retomar o exercício, apercebendo-se da falha. É como se a informação entre o cérebro e a boca se perdesse pelo caminho.

Afasia Anómica, reparem que o senhor não parece ter qualquer problema de linguagem e fala, O discurso é fluente, percebe as questões e consegue expressar-se, o problema da Afasia Anómica é que é facilmente camuflada, pois a única dificuldade que o senhor refere é que quando quer fazer um pedido, por exemplo num restaurante, não consegue dizer as coisas e demora mais tempo e por vezes os empregados ficam sem paciência. Ou seja, o que ele não consegue fazer é dar nome às coisas, bastava mostrar-lhe cartões com imagens e essas dificuldades seriam evidentes.

 

Acho que hoje foi mais fácil para perceberem o que é uma Afasia, afinal ver é mais fácil de compreender, mas mais difícil de lidar com estas situações. Pois lembrem-se, até 'ontem' estas pessoas tinham uma vida completamente normal.

 

P.S.: Qualquer dúvida que tenham é só perguntar!