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Aprender uma coisa nova por dia

Nem sabe o bem que lhe fazia

Como estimular a linguagem e a fala do bebé?

 

       Nós, os seres humanos, não somos assim tão diferentes dos outros animais no que toca à aprendizagem. Nós, aprendemos pela imitação, claro que temos um código genético e estruturas físicas que nos fornecem capacidades para aprender determinadas competências, mas só as aprendemos porque emitamos os nossos semelhantes. Lembram-se da história de 'O menino selvagem'? É o exemplo perfeito de que para aprendermos temos de ter modelos que possamos imitar.

         A linguagem não é diferente, aprendemos porque tudo à nossa volta nos estimula para tal. É apenas necessário compreender que não é só através da linguagem (palavras) que o bebé comunica, ainda antes de falar ele facilmente consegue comunicar o que precisa. Há até mães que já sabem qual o choro de sono, fome e de mimo, isso é mais uma forma de comunicar. Mas a verdade é que a linguagem é a forma como nós, seres humanos, melhor comunicamos e é também necessário ser estimulada, de uma forma tão simples como: FALAR. Sim, falar. Qual será a melhor forma de estimular a linguagem do que falar? Seja para o bebé, seja com a televisão ligada, seja a contar uma história ou até mesmo com música, todas estas actividades vão estimular directa e indirectamente a linguagem e a fala do bebé. Pelos 5/6 meses o bebé já começa a palrar de forma mais frequente e já começa a ter alguma intencionalidade, no entanto ainda nada é dito, apesar de cada um interpretar o que quiser. No entanto, deve-se estimular a linguagem desde o momento em que nasce, assim, deixo algumas dicas.

        1. Se até aqui tem vindo a falar com a criança em modo 'baby talking', aquelas frases com 'inho' e 'inha' em todas as palavras e diminutivos como 'peta' ou 'chicha', a partir de agora é bom dar o modelo correcto de cada coisa.

 

           2. Aproveite a hora de cada rotina para expandir vocabulário, por exemplo: quando está a dar banho diga que partes do corpo vai lavando ou os produtos que usa. O mesmo pode ser utilizado na hora de comer, de vestir e até de brincar.

 

          3. Boa articulação das palavras, há de reparar que quando falamos com bebés eles olham muito atentamente para a nossa boca, por isso há que ter um bocadinho mais de cuidado com a forma como falamos.

 

         4. A hora de brincar é excelente para promover a linguagem, a criança está entretida, quer interagir e é o momento ideal para falar com ela.

 

              5. Contar histórias, cantar músicas, e falar directamente com a criança, mesmo que ela não responda, é estar a estimular a linguagem.

 

              6. Quando a criança palrar não a interrompa, faça como se fosse uma conversa, verá que ela vai começar a perceber que a conversação é feita de turnos comunicativos.

 

                7. Brincar, deixe-a brincar e muito, a hora de brincar é um mundo de estímulos para a criança, sejam motores ou de linguagem, e sente-se no chão com ela e aproveite o momento.

 

Muito resumidamente, estimular a fala e a linguagem é tão simples como: Falar!

 

Dúvidas? Ajuda? Estou cá para isso, é só dizer.

 

(Imagens retiradas daqui e daqui)

Vamos TODOS comunicar?

       Uma vez, por estes lados, referi que mais do que Terapeutas da Fala, somos Terapeutas da Comunicação. E a comunicação é uma das mais importantes condições humanas, aliás, é a forma complexa e explicita de como comunicamos e organizamos pensamentos que nos torna seres racionais. Por este mundo existem muitas doenças que têm adjacentes Perturbações da Comunicação, nomeadamente, autismo, paralisia cerebral, síndrome de locked-in, entre outras. 

          Por Perturbações da Comunicação, entenda-se a dificuldade de comunicar, seja para perceber o que é comunicado seja para comunicar. Normalmente, são pessoas com problemas de fala, de compreensão de informação verbal e com défices cognitivos (apesar de em muitos casos também não os terem). Para estas pessoas, como muitas vezes têm ainda dificuldades motoras associadas, é necessário arranjar uma forma de Comunicação Aumentativa e Alternativa. Palavreado difícil? Nem por isso, apenas quer dizer que vamos encontrar uma forma de melhorar a comunicação de forma à pessoa se tornar independente de uma pessoa para ser compreendida. Vejamos alguns exemplos:

          Esta é uma tabela de comunicação de PCS - Picture Communication Symbols, um dos maus utilizados Sistemas de Comunicação. Antigamente usavam-se livros, em que o utilizador tinha de andar a virar as folhas que se encontravam organizadas por categorias (saudações, verbos, objectos, pessoas, tempo...), ainda hoje as pessoas mais carenciadas utilizam. No entanto, as tecnologias vieram trazer muitas vantagens, e os tablets hoje são uma mais valia para estes sistemas de comunicação, que adaptados adequadamente às necessidades de cada utilizador são práticos e podem ser alterados continuadamente.

           Existem muitos outros sistemas de comunicação, uns mais simples a preto e branco e outros acompanhados de gestos, mas o importante é estes serem adaptados às capacidades cognitivas e motoras de cada pessoa. Ainda é importante dizer, que quanto mais explícitos forem os desenhos, mais fácil será de usar o sistema, apesar de existirem sistema de apenas letras ou palavras (muito usados para perturbações de comunicação adquiridas).

 

        O vocalizador, entra no mesmo sistema de selecção das imagens do que se pretende comunicar, mas tem uma saída de voz que permite ao interlocutor não ter de olhar para o quadro de comunicação e apenas ouvir, apesar de ser muito limitado na sua utilização. 

           E quem não se lembra de Stephen Hawking ou da personagem do filme 'O Escafandro e a Borboleta'? O primeiro com um sistema de comunicação avançadíssimo que é vocalizado por um computador, após a selecção das palavras que são pretendidas transmitir (explicação aqui) e o segundo com um sistema tão básico como a indicação das letras e em que este pestaneja quando quer seleccionar a letra pretendida. Um mais complexo que o outro e um mais demorado que o outro, mas que permitiram a comunicação até para elaboração de livros.

 

             Por isso, há sempre formas de comunicar e apenas foram apresentadas algumas. Precisam de treino, de quem comunica e quem recebe a informação. Precisam de tempo e muita paciência, mas basta estarmos dispostos a comunicar e a perceber o que nos é comunicado que o processo de comunicação se inicia imediatamente. Nem que seja com um piscar de olhos.

Dúvidas? Comuniquem da forma que quiserem!

 

(Imagens retiradas daqui, daqui, daqui, daqui, daqui)

O que é a Afasia?

     No próximo dia 31 de Março celebra-se o Dia Nacional do Doente com AVC (Acidente Vascular Cerebral). Todos já ouvimos falar do AVC ou conhecemos alguém que teve este infortúnio. Infelizmente, apesar do número de óbitos ter diminuído como consequência de AVC, a incidência desta patologia tem vindo a aumentar nos últimos anos devido a vários factores (numa próxima vez falarei deles).

            De forma muito breve, pode-se dizer que o AVC é um derrame cerebral ou o entupimento de uma veia que irriga o cérebro, originado assim a morte de células cerebrais essenciais ao funcionamento do mesmo, levando a perturbações do funcionamento neurológico. Uma das consequências de um AVC poderá ser a Afasia.

 

O que é a Afasia?

      A Afasia é uma alteração adquirida da linguagem, de causa neurológica, caracterizada pelo comprometimento da linguagem, seja na produção e compreensão de material verbal ou da leitura e escrita. Esta perturbação exclui todas as perturbações associadas a défices motores e/ou sensoriais, deficiência mental, perturbações psiquiátricas ou demência. Ou seja, a pessoa que é diagnosticada com uma Afasia poderá ter dificuldades em compreender a informação verbal, escrita ou oral, e ter dificuldades de expressão. Isto não indica que a inteligência da pessoa ficou afectada, nem que a partir de agora nunca mais será capaz de comunicar, mas que a parte do cérebro que ficou afectada era responsável pela comunicação, compreensão e/ou expressão.

 

Tipos de Afasia

      Existem oito tipos de Afasia: Afasia de Broca; Afasia de Wernicke; Afasia de condução; Afasia global; Afasia transcortical motora; Afasia transcortical sensorial; Afasia transcortical mista; e Afasia anómica; estes nomes são dados de acordo com as áreas das lesões cerebrais. Cada uma delas tem características muito próprias, mas a Afasia é avaliada e caracterizada com base em quatro aspectos: a fluência do discurso (se há muitas pausas ou se o discurso flui), nomeação (se a pessoa é capaz de dizer o nome de objectos/pessoas), compreensão (se compreende ou não o que lhe é dito) e a repetição (se consegue repetir palavras, frases e números).

            No seguinte quadro poderão ver as principais características de cada uma das afasias.

(Quadro retirado daqui)

 

O papel do Terapeuta da Fala na Afasia

            Sendo então o Terapeuta da Fala o terapeuta responsável pela comunicação é então o terapeuta que irá trabalhar com o paciente com Afasia (nunca gostei do termo afásico, a pessoa não se caracteriza por ter afasia, mas sim por ser uma pessoa). O terapeuta da fala trabalha na perspectiva da reabilitação das competências da comunicação, com o treino de nomeação de imagens, na melhoria da competência da fluência do discurso, no treino da leitura e da escrita, assim como no treino auditivo e processamento da informação verbal (estes são apenas alguns exemplos).

            O terapeuta é ainda responsável por auxiliar e debater, se necessário e houver interesse, a família para fornecer estratégias alternativas de comunicação com o paciente. É responsável por criar estratégias que melhor a qualidade de vida do paciente e a interacção com o seu ambiente (sejam eles profissionais de saúde, amigos ou outros intervenientes dos vários contextos do paciente).

 

Dicas para comunicar com Afásicos

            O Instituto Português de Afasia fornece no seu site (aqui) uma série de dicas importantíssimas para quem comunica com pessoas com Afasia, deixo apenas cinco que considero essenciais e aconselho a visitarem esta nova instituição que tem feito um excelente trabalho na área de sensibilização e tratamento da Afasia.

  1. Não fale mais alto, pessoas com Afasia não são surdas, têm apenas dificuldades de compreensão.
  2. Não infantilize o discurso, lembre-se que tem adultos à sua frente e não uma criança.
  3. Não ignore quando tentam falar.
  4. Tenha paciência, o discurso pode demorar mais a surgir e é preciso dar tempo à pessoa.
  5. Use gestos, expressões faciais e objectos, se necessário for para ajudar na comunicação.

 

        O mais importante com isto é dar a compreender que a Afasia é uma consequência de perturbações neurológicas e, infelizmente, poderá acontecer a qualquer um de nós. Por momentos, coloque-se no lugar da pessoa e tente perceber a dificuldade por que passa ao simplesmente não se conseguir expressar ou perceber aquilo que lhe é dito. Lembre-se, a Afasia é real e surge em pessoas reais, por isso não a vamos ignorar ou fazer de conta que não existe.

A Terapia da Fala

(Imagem retirada daqui)

 

     Hoje, de uma forma breve e simplista, será explicado o que é a Terapia da Fala, a minha profissão. Uma área da saúde que há poucos anos começou a ganhar terreno e que, apesar do seu crescimento, se mantém incógnito para muita gente. Hoje será transmitido o básico da Terapia da Fala e todas as semanas serão faladas as áreas específicas da profissão, algumas doenças e a Terapia da Fala e dúvidas que desse lado possam surgir.

 

O que é a Terapia da Fala?

     Se formos começar por uma definição poderemos dizer que segundo a Associação Portuguesa de Terapeutas da Fala, o Terapeuta da Fala é responsável por avaliar, diagnosticar e reabilitar ou habilitar perturbações relacionadas com a comunicação, linguagem, fala e funções estomatognáticas (entenda-se mastigação, deglutição, respiração). Sendo o Terapeuta da Fala o terapeuta da comunicação, é necessário que este tenha em conta todos os tipos de comunicação, sejam eles verbais ou não-verbais.

     Esta é a versão ‘pomposa’ do que o Terapeuta pode fazer, mas a realidade é que ainda assim muita gente não saberia explicar e explorar o que o terapeuta da fala faz na realidade.

 

Quais as áreas de intervenção e com quem trabalha o Terapeuta da Fala?

      A maioria das pessoas com que me cruzo pensam que Terapia da Fala é só ensinar crianças a falar “ah tu ajudas as crianças a dizer o L quando não sabem!”, sim é verdade que o faço, mas faço muito mais que isso.

      As áreas de intervenção de terapia da fala podem ser divididas em: Linguagem (oral e escrita), comunicação, articulação, voz, deglutição, motricidade orofacial e fluência. Cada uma destas áreas pode ser trabalhada em todas as faixas etárias, desde crianças a adultos. Não é por se ter 80 anos que não podemos melhorar as competências de mastigação e não é por se ter 7 anos que não podemos ensinar uma criança a não abusar da voz e não ficar rouca com tanta frequência. O Terapeuta da Fala está responsável por todas estas áreas de intervenção, mas é necessário ter em atenção que esta valência da área da saúde pode ter de ser complementada com outras, nomeadamente, Fisioterapia, Terapia da Ocupacional, Ortodontia, Otorrinolaringologia, Audiologia, entre outras, até professores e educadores. Para se obterem os melhores resultados de cada caso é necessário o terapeuta trabalhar em equipa e coordenar os seus objectivos com outros profissionais, e claro com a família e o paciente em questão.

 

Onde trabalha o Terapeuta da Fala?

      Em tempos o local de trabalho mais comum para um Terapeuta da Fala seria num consultório médico, hoje em dia a tendência do terapeuta é enorme. Já podemos encontrar terapeutas em hospitais, clínicas de fisiatria, centros de reabilitação, escolas, infantários, lares de idosos, gabinetes privados, centros de saúde, IPSS e até em serviços ao domicílio.

      A Terapia da Fala tem aumentado a sua presença em vários locais, ainda está em crescimento e há imensas entidades que ainda não compreendem a importância da terapia em diferentes contextos, mas aos bocadinhos temos conseguido ganhar terreno.

 

      No fim, apenas podemos dizer, apesar do nome sugerir que Terapia da Fala é só fala, que Terapia da Fala é muito mais que isso!