Se na semana passada falamos sobre a Afasia, uma das consequências de um AVC (por exemplo), esta semana iremos observá-la. Uma coisa é falarmos das suas características, outra coisa é observarmos a pessoa com Afasia. Muitas vezes o primeiro impacto com pessoas com Afasia faz com que não saibamos reagir, pois a teoria é uma coisa e a prática é outra. Lembro-me perfeitamente de nas aulas os professores nos prepararem para esse desafio, contudo não impediu o meu 'choque' quando observei pela primeira vez num senhor de 43 anos com uma Afasia de Wernick. Mais que o conhecimento teórico é preciso ver e saber lidar com uma pessoa com Afasia e hoje é o que vamos fazer.
Podemos ainda fazer outro exercício: Limpem a vossa mente e vejam o primeiro dos vídeos, o que fariam se um dia acordassem e as palavras que queriam dizer não vos chegassem à boca? O que fariam se olhassem para uma pessoa e não percebessem nada do que diziam? E se vocês mesmos conseguissem aperceber-se de que tudo o que diziam não fazia sentido? É algo assustador, mas a verdade é que há milhares de pessoas que lidam com isso todos os dias e o Terapeuta da Fala auxilia na aprendizagem de um novo método de comunicação ou na melhoria das capacidades para a comunicação.
Afasia de Wernick, não há paragens do discurso, no entanto a senhora tem imensas dificuldades de compreensão como se pode observar com a falta de respostas às perguntas feitas, nem realiza as tarefas pedidas. Por vezes utiliza apenas uma palavra para executar a tarefa, 'Mostra-me como se dá um beijo', ela recorre só à palavra beijo para imitar. O vídeo é em inglês, mas as características são evidentes.
Afasia de Broca, é observável que a jovem sabe o que deve dizer mas não se lembra das palavras, a Sarah compreende o que lhe dizem, mas não consegue verbalizar a resposta em tempo imediato, não mantendo um discurso fluente. É como se as palavras não lhe formassem no cérebro. Reparem nas pausas que faz e nos 'hummm' que faz para pensar na palavra que quer dizer.
Afasia Global, semelhante à Afasia de Broca. A terapeuta questiona onde estão, responde no parque. O senhor compreende, mas não consegue responder nem repetir o que lhe dizem, a leitura e a escrita encontram-se também afectadas.
Afasia de Condução, vejam que a senhora percebe a tarefa que tem de fazer, contudo a meio da tarefa erra e não consegue retomar o exercício, apercebendo-se da falha. É como se a informação entre o cérebro e a boca se perdesse pelo caminho.
Afasia Anómica, reparem que o senhor não parece ter qualquer problema de linguagem e fala, O discurso é fluente, percebe as questões e consegue expressar-se, o problema da Afasia Anómica é que é facilmente camuflada, pois a única dificuldade que o senhor refere é que quando quer fazer um pedido, por exemplo num restaurante, não consegue dizer as coisas e demora mais tempo e por vezes os empregados ficam sem paciência. Ou seja, o que ele não consegue fazer é dar nome às coisas, bastava mostrar-lhe cartões com imagens e essas dificuldades seriam evidentes.
Acho que hoje foi mais fácil para perceberem o que é uma Afasia, afinal ver é mais fácil de compreender, mas mais difícil de lidar com estas situações. Pois lembrem-se, até 'ontem' estas pessoas tinham uma vida completamente normal.
No próximo dia 31 de Março celebra-se o Dia Nacional do Doente com AVC (Acidente Vascular Cerebral). Todos já ouvimos falar do AVC ou conhecemos alguém que teve este infortúnio. Infelizmente, apesar do número de óbitos ter diminuído como consequência de AVC, a incidência desta patologia tem vindo a aumentar nos últimos anos devido a vários factores (numa próxima vez falarei deles).
De forma muito breve, pode-se dizer que o AVC é um derrame cerebral ou o entupimento de uma veia que irriga o cérebro, originado assim a morte de células cerebrais essenciais ao funcionamento do mesmo, levando a perturbações do funcionamento neurológico. Uma das consequências de um AVC poderá ser a Afasia.
O que é a Afasia?
A Afasia é uma alteração adquirida da linguagem, de causa neurológica, caracterizada pelo comprometimento da linguagem, seja na produção e compreensão de material verbal ou da leitura e escrita. Esta perturbação exclui todas as perturbações associadas a défices motores e/ou sensoriais, deficiência mental, perturbações psiquiátricas ou demência. Ou seja, a pessoa que é diagnosticada com uma Afasia poderá ter dificuldades em compreender a informação verbal, escrita ou oral, e ter dificuldades de expressão. Isto não indica que a inteligência da pessoa ficou afectada, nem que a partir de agora nunca mais será capaz de comunicar, mas que a parte do cérebro que ficou afectada era responsável pela comunicação, compreensão e/ou expressão.
Tipos de Afasia
Existem oito tipos de Afasia: Afasia de Broca; Afasia de Wernicke; Afasia de condução; Afasia global; Afasia transcortical motora; Afasia transcortical sensorial; Afasia transcortical mista; e Afasia anómica; estes nomes são dados de acordo com as áreas das lesões cerebrais. Cada uma delas tem características muito próprias, mas a Afasia é avaliada e caracterizada com base em quatro aspectos: a fluência do discurso (se há muitas pausas ou se o discurso flui), nomeação (se a pessoa é capaz de dizer o nome de objectos/pessoas), compreensão (se compreende ou não o que lhe é dito) e a repetição (se consegue repetir palavras, frases e números).
No seguinte quadro poderão ver as principais características de cada uma das afasias.
Sendo então o Terapeuta da Fala o terapeuta responsável pela comunicação é então o terapeuta que irá trabalhar com o paciente com Afasia (nunca gostei do termo afásico, a pessoa não se caracteriza por ter afasia, mas sim por ser uma pessoa). O terapeuta da fala trabalha na perspectiva da reabilitação das competências da comunicação, com o treino de nomeação de imagens, na melhoria da competência da fluência do discurso, no treino da leitura e da escrita, assim como no treino auditivo e processamento da informação verbal (estes são apenas alguns exemplos).
O terapeuta é ainda responsável por auxiliar e debater, se necessário e houver interesse, a família para fornecer estratégias alternativas de comunicação com o paciente. É responsável por criar estratégias que melhor a qualidade de vida do paciente e a interacção com o seu ambiente (sejam eles profissionais de saúde, amigos ou outros intervenientes dos vários contextos do paciente).
Dicas para comunicar com Afásicos
O Instituto Português de Afasia fornece no seu site (aqui) uma série de dicas importantíssimas para quem comunica com pessoas com Afasia, deixo apenas cinco que considero essenciais e aconselho a visitarem esta nova instituição que tem feito um excelente trabalho na área de sensibilização e tratamento da Afasia.
Não fale mais alto, pessoas com Afasia não são surdas, têm apenas dificuldades de compreensão.
Não infantilize o discurso, lembre-se que tem adultos à sua frente e não uma criança.
Não ignore quando tentam falar.
Tenha paciência, o discurso pode demorar mais a surgir e é preciso dar tempo à pessoa.
Use gestos, expressões faciais e objectos, se necessário for para ajudar na comunicação.
O mais importante com isto é dar a compreender que a Afasia é uma consequência de perturbações neurológicas e, infelizmente, poderá acontecer a qualquer um de nós. Por momentos, coloque-se no lugar da pessoa e tente perceber a dificuldade por que passa ao simplesmente não se conseguir expressar ou perceber aquilo que lhe é dito. Lembre-se, a Afasia é real e surge em pessoas reais, por isso não a vamos ignorar ou fazer de conta que não existe.
Também conhecido como Trombose ou enfarte cerebral.
Consiste numa alteração aguda da irrigação cerebral com apresentação de sinais e sintomas neurológicos (como a alteração da consciência, alteração da sensibilidade e paralisias, por exemplo). Surge quase sempre na sequência de processos de arteriosclerose nas artérias que levam o sangue ao cérebro, ou nos próprios vasos cerebrais.
O AVC é uma doença muito frequente, e para terem uma noção, até há bem pouco tempo era considerada a principal causa de morte em Portugal. Hoje, não é a principal, mas é das principais causas de morte da população portuguesa.
Um AVC pode ser considerado isquémico (por falta de irrigação de sangue ao cérebro) ou hemorrágico (por hemorragia numa determinada área do cérebro).
As causas de qualquer um dos tipos de AVC, podem estar relacionadas com a oclusão de um vaso pela presença de um coágulo (por exemplo) ou trombo (podem visualizar melhor o que é, aqui), podendo levar ao rompimento do vaso, e consequentemente, ao processo hemorrágico.
Os fatores de risco para o aparecimento desta doença integram o aumento da pressão arterial, ser portador de diabetes, ter hábitos tabágicos frequentes, alterações do perfil lipídico (como o aumento do colesterol, que a Dona pavlova já falou, aqui).
Que sequelas podem ficar após um AVC?
As consequências podem não ser nenhumas, ou muitas. Depende de vários fatores: Da pessoa em si, do local no cérebro onde ocorre o AVC, da altura em que a pessoa é socorrida e da resposta ao tratamento implementado.
Contudo a pessoa pode ficar com dificuldades na fala (afasia), com alterações do estado de consciência, com alterações da sensibilidade (não sentindo tão bem o calor ou o frio, sentir dormências ou "formigueiros" em algumas zonas do corpo, por exemplo), com desorientação, apatia, confusão aguda, incontinência ou retenção urinária, ou incapacidade para realizar determinados movimentos, embora a mobilidade permaneça intacta (apraxia).
Por norma, as alterações ocorrem só num lado do corpo.
Que importância tem a altura do diagnóstico?
MUITA!
É determinante na resposta ao tratamento por parte da pessoa e no desenvolvimento das sequelas com que uma pessoa poderá ficar posteriormente.
Desta forma, torna-se fundamental que cada um de nós conheça um pouco sobre a doença, não só para cultivo pessoal, como para o sabermos reconhecer. Quem sabe se não podemos vir a ajudar alguém no futuro?
De seguida, poderão verificar uma imagem bastante explicita referente aos sinais de alerta a reconhecer, que poderão ser indicativos de um Acidente Vascular Cerebral.