Que letras são aquelas que aparecem nos empréstimos?
Quem já pediu créditos para alguma coisa, já notou que existem várias sequências de letras, muitas delas sem qualquer explicação sobre o que significam?
Ou quando passam por um banco tem cartazes a anunciar empréstimos para habitação, viagens, carros e outros serviços e tem umas letras com as percentagens, que obriga o cliente a saber que é que aquelas letras querem dizer e porque é que são diferentes.
Em vez de estar a explicar letra a letra com as definições técnicas (nalguns casos são mais de 200 páginas), resumo-as ao seu mais básico significado.
Taxa de Juro- É a taxa que é paga pelo empréstimo. Representa o valor base pago (que pode ser variável, sendo o exemplo mais simples a Euribor, ou fixa) na mensalidade.
Spread - É o lucro do banco. Este valor é quanto o banco/financiadora têm de lucro, anualmente, com o dinheiro que emprestam.
Comissões - São os valores que o banco/financiadora cobra pela prestação dos seus serviços (como o envio dos recibos, abertura de dossier, tratamento de dados e outros serviços).
Seguros - São os seguros ligados aos créditos. Em muitos bancos/financiadoras, existem seguros obrigatórios, como o seguro de vida, seguro de crédito (obrigatório no caso de crédito ao consumo) e de acidentes pessoais. Todos os seguros ligados ao crédito para habitação são pagos à parte. No crédito ao consumo o seguro de crédito é obrigatório e, dependendo da financiadora, podem ser pedidos alguns tipos de seguros de vida.
Vamos começar pelos empréstimos para a compra de bens ou serviços. Existem diferenças entre o que é apresentado para este e as usadas no crédito para habitação.
Quando fazem uma simulação ou estão a ver um panfleto de uma financiadora, desde 2009, que é obrigatório terem 3 referências: TAN (Taxa Anual Nominal), TAEG (Taxa Anual Efectiva Global) e Montante total imputado ao consumidor.
A TAN é o valor cobrado pelo dinheiro emprestado, ano a ano. Esta percentagem é a taxa de juro somada ao spread, que são cobrados pela financiadora. Depois existem seguros, comissões por pagamento, comissões por serviços prestados e taxinhas, que são agregados ao valor pago nos juros e spread. É aqui que entra a TAEG. Esta taxa tem de incluir TUDO o que está agregado ao crédito, por obrigação. Isto é, se tiverem uma TAN de 9% e uma TAEG de 12%, quer dizer que, anualmente, pagam 9%, entre juros e spread, ao que é preciso somar mais 3% de outras coisas ligadas ao crédito obtido (comissões de serviço, seguros de crédito e outras despesas, relacionadas com o processo).
A maneira mais simples de comparar é o montante total imputado ao consumidor. (Para o mesmo número de prestações e valor requerido.)
Por isso, quando forem comparar empréstimos, ignorem a TAN. Comparem é a TAEG e o valor imputado ao consumidor. (Façam as simulações para o mesmo número de prestações.)
Por outro lado, no caso do crédito para habitação, os valores são apresentados com referências: TAN (Taxa Anual Nominal), TAE (Taxa Anual Efectiva) e a TAER (Taxa Anual Efectiva Revista).
A TAN é a mesma do crédito ao consumo. É a taxa de juro mais o spread, contabilizados anualmente.
A TAE é semelhante à TAEG (não engloba os seguros, como acontece nos créditos para consumo). É a taxa anual cobrada pelo banco, já incluindo as comissões e despesas que o banco cobra(como despesas pelo envio dos extractos ou recibos) pelo empréstimo. Esta é a melhor forma de comparar, directamente, os valores cobrados.
A TAER é a taxa que o banco cobra incluindo as bonificações atribuídas por subscrição de produtos financeiros da instituição. Esta taxa permite saber o valor total, que o cliente vai pagar pelo empréstimo. Ao mesmo tempo, permite comparar as bonificações que o banco oferece, em troca do cliente pagar outros serviços ou subscrever produtos financeiros. Normalmente, a diferença é aplicada no spread, que é reduzido, em troca do cliente contratar produtos financeiros da banca (conta ordenado, cartões de crédito, carteiras de títulos e outros serviços financeiros). Cada produto agregado deve possuir uma referência individual da percentagem reduzida(ou ao pacote de produtos). Caso o cliente não cumpra o acordado (como por exemplo, ter de realizar pagamentos no valor, mínimo, de 600 euros com o cartão de crédito a cada semestre ou ano), o valor bonificado é anulado. Confiram essas condições para não acabarem por ver a bonificação desaparecer e a terem de pagar comissões inesperadas.
No caso dos empréstimos para habitação, os seguros são subscritos à parte e não são agregados às taxas apresentadas, podendo ter algum valor que afecte a TAER, quando são subscritos a uma seguradora ligada ao grupo agregado ao banco. Sendo que podem pedir a simulação no banco, que vos fornece informação sobre os seguros das companhias com quem trabalha e as condições base mas, podem ir a outras seguradoras, apresentar as condições oferecidas pelo banco e pedir a simulação do seguro para comportar aquele crédito. (Os seguros de vida costumam ser obrigatórios e muita gente aceita-os como o banco os oferece, sendo que o prémio é superior ao valor comercial corrente para as mesmas coberturas.)
Em resumo: se vão pedir um empréstimo para a aquisição de bens ou serviços, comparem a TAEG e o Montante total imputado ao consumidor.
Se vão pedir um empréstimo para habitação, comparem TAE e a TAER.
Em ambos os casos, façam as simulações para os mesmos prazos de pagamento e as mesmas condições de subscrição.
No crédito ao consumo, a diferença de um trimestre, pode dar diferenças que levam a uma pior escolha. No crédito para habitação, a diferença costuma andar em blocos de 5 anos e depende muito dos serviços agregados, pelo que a TAER pode enganar, se não conferirem o que subscreveram.
E atenção aos seguros, que são subscritos em clausulas secundárias nos contratos. Se não precisam deles para as condições base, podem não os aceitar sem qualquer prejuízo para o acordado.
Como disse, isto é uma versão muito simplista e que ajuda a perceberem o jogo de números feito pelos bancos e financiadoras. Só que são serviços que tem, demasiados, túneis. Nunca acreditem quando alguém que vende seguros ou vos quer levar a subscrever um crédito, vos diga que todas as condições são transparentes... isso é algo que não existe.