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Aprender uma coisa nova por dia

Nem sabe o bem que lhe fazia

Ser Pobre - Um conceito demasiado complexo

Antes de mais explicar-vos o que estou aqui a fazer.

 

Olá, Mula, muito prazer! Sou licenciada em educação social e pretendo pôr-vos a pensar um pouco sobre temas sociais que muitas das vezes não são polémicos, mas que a minha função será torna-los polémicos, para que questionem as vossas ideologias.

 

Para começar e porque é um assunto que nunca sai de moda e eu gosto que toda a gente esteja na moda – e rapidamente vão perceber que não percebo nada de moda - trago-vos uma questão que pode ter diferentes contornos apesar de ser fácil de a julgar: a pobreza relativa.

 

 

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Vivemos um mundo de opulência sem precedentes, mas também de privação e opressão extraordinárias. O desenvolvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente a sua condição de cidadão." (Amartya Sen)

 

 

Pobreza? Exclusão social? Quem nunca ouviu falar em pobreza ou em exclusão social? Quem nunca deu a sua opinião, ou falou mais do que o realmente sabia? Os constantes relatos da comunicação social sobre estas problemáticas, favorecem uma familiarização com estes dois conceitos, permitindo uma simplificação dos mesmos, porém, como teremos oportunidade de verificar, os conceitos de pobreza e de exclusão social não são simples, e permitem múltiplas interpretações - devido ao seu carácter multidimensional.

 

Não é incomum ouvirmos relatos de políticos com ordenados abonados dizerem que os seus rendimentos não são suficientes, como o de Marinho e Pinto, que disse publicamente que 4800€ não são suficientes para viver em Lisboa quando milhares de pessoas em Lisboa vivem com o salário mínimo, que está longe de se parecer com 4800€. Obviamente que muito se poderia dizer sobre essa afirmação, e a as redes sociais trataram de difundir as opiniões das pessoas sobre a mesma, mas a verdade é que a pobreza é relativa e assim é também a exclusão social, porque ser pobre é muito mais do que não ter dinheiro, ser pobre é muito mais do que não ter emprego. Porque hoje não vos quero falar da pobreza absoluta, quando as necessidades básicas de saúde, alimentação e educação não são satisfeitas por falta de recursos, mas sim da pobreza relativa.

 

Existe um conceito de pobreza relativa que é tão válido como qualquer outro e que não depende dos rendimentos, ou do tipo de emprego que possui, mas da perceção que os indivíduos têm de si. Ou seja, eu posso efetivamente receber 4800€, ter um alto cargo de chefia e sentir-me pobre e excluída e existir por sua vez, uma outra pessoa a receber 300€ por mês, que limpa escadas e não se sentir pobre nem excluída porque a pobreza relativa implica uma avaliação das condições de vida objetivas, avaliação das condições materiais não satisfeitas, mas também avalia os sentimentos, os hábitos, os comportamentos e as relações que os outros estabelecem com a sociedade. Ou seja, depende das ambições, dos desejos, do que esperamos do futuro.

 

Um sujeito que não possua dinheiro para comprar um iate maior, mas já possua uma frota de barcos mais pequenos pode sentir-se socialmente excluído e por isso sentir-se pobre, da mesma forma que um homem de 1,80m se pode sentir baixo quando comparado com um homem de 2m. Um sujeito que é visto como rico por alguém que recebe o salário mínimo, pode não se sentir efetivamente rico. O simples facto de uns conseguirem aceder a determinadas clínicas e hospitais e outros não, é motivo de desigualdade que pode dar a sensação de pobreza. O mesmo se reflecte no acesso a instituições privadas de ensino. O facto de uns conseguirem aceder a determinados bens e outros não é o suficiente para uns se sentirem mais pobres que outros e por isso a pobreza é relativa.

 

E se isto pode ser uma discrepância demasiado flagrante tendo em conta os valores que eu apresentei, e tornar a minha publicação ridícula, a verdade é que se olharmos para nós, poderemos ver a mesma situação, mas mais camuflada. Muitos de nós consideramo-nos pobres, mas possuímos carro, casa e uma boa alimentação. Sentimo-nos pobres porque não estão ao nosso alcance as férias de sonho, a casa de sonho, o carro de sonho e por não podermos ir jantar fora todos os fins-de-semana e comer lagosta… Mas aos olhos de muita gente não somos tão pobres assim. Porque há pessoas que efetivamente passam fome, não têm um teto digno de se chamar assim, e os laços familiares serem por vezes até inexistentes. Mas a verdade é que não é por existirem crianças a morrer diariamente em África que nos vamos sentir melhor ou pior com a nossa vida, porque os nossos problemas, são os nossos problemas, as nossas dores, são as nossas dores e doem sempre mais, porque nos doem a nós.

 

A verdade é que é sempre mais fácil julgar o outro – não querendo defender ninguém, efetivamente, até porque estou do lado dos que também julgam quando ouço determinados queixumes – do que olharmos para o nosso umbigo. Por isso quando ouvirem o vosso vizinho que aparentemente tem tudo, queixar-se, quando o vosso colega de trabalho se lamentar, apesar se terem aparentemente muito mais do que vocês, lembrem-se que muitas das vezes se trata de sentimentos, e não se controlam os sentimentos. Claro que pensar nisto, também é entrar no campo das futilidades, no que cada um de nós julga como acessório ou não... Mas isso... Isso já é outra conversa!

 

Pensem nisto!

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